Wednesday 23 September 2015

VW Scandal - O escândalo dieselgate da Volkswagen.

Volskwagen Beetle, Golf, Jetta, e Passat, apanhados a fazer batota nos testes.

A VW recorria a um algoritmo de programação que conseguia perceber se o carro estava a ser conduzido na estrada ou a ser testado num banco de ensaios e mudar o seu comportamento em termos de poluição para valores 10 ou 40 vezes menores que o habitual para conseguir cumprir os limites de poluição.

A parte "TDI Clean Diesel" desta imagem foi largamente exagerada.
(FOTO: VW)


Como funciona?

Como programador, não consigo deixar de apreciar a elegância da solução encontrada para ativar o modo de "mentir descaradamente aos tipos da EPA": a forma como o software deteta que o automóvel não está realmente a andar a 120Km/h na autoestrada mas sim numa sala de laboratório é através da análise da posição do volante ao longo do tempo.

Estão a ver os pequenos toques de volante que damos para manter o carro em reta? Pois, isso não acontece se o automóvel estiver a circular em cima de rolos. Bingo!

Admiro a elegância da solução.
0% de ética mas 100% de elegância :)


A VW mentiu mesmo? Não pode ser um mal entendido?

Não. Ninguém consegue uma explicação credível para o software analisar as correcções no volante quando está a gerir o sistema de controle de motor/emissões. E até pode não ter sido só a VW a mentir porque todo o sistema é composto por vários empreiteiros e subcontratadores. Nunca saberemos exatamente quem sabia o quê, mas é bastante óbvio que a intenção era fazer batota nos testes.


Performance, consumos, poluição. 

Destes 3 escolham 2. Todos os motores vivem num equilíbrio entre estas três características porque quando se melhora um dos factores, é sempre às custa de impacto negativo nos outros. Ou seja, motores potentes consomem, se não poluirem, motores que emitam poucos gases nocivos terão performances fracas se não consumirem muito e etc. É o problema do mundo real se reger pelas leis da física.

Mas os motores da VW nos EUA poluem menos que na Europa?

Resposta curta: Não.

A resposta mais longa: os motores diesel que estão de acordo com as normas norte-americanas poluem menos que os europeus. Os da VW aparentemente estariam a operar com valores semelhantes às normas europeias que são mais liberais.


Mas os americanos têm normas mais rígidas que a Europa?

Os Estados Unidos da América, por tradição, gostam muito mais de motores a gasolina, tanto que não acham que exista algo de errado num Corvette com um motor de 6200 de cilindrada a gasolina para os quais nem sequer interessa referir os valores de poluição.

Corvette: serve para engatar miúdas, o ambiente que se lixe.


Mas o gasóleo era algo apenas usado em camiões feios e barulhentos. O resultado disso é que a indústria automóvel deles não tinha motores diesel minimamente interessantes e quando confrontados com os avanços dos fabricantes europeus, os lobbies das grande marcas conseguiram que o regulador (a Environmental Protection Agency) determinasse valores máximos aceitáveis muito abaixo dos valores europeus, uma forma de proteção semelhante às medidas que restringiam os vôos de aviões supersónicos de passageiros após a Boeing desistir dos seus planos para construir um concorrente do Concorde. Não tenho nada contra esse tipo de protecionismo, obviamente, parvos seriam eles se não o fizessem.
A solução que mais facilmente permitia cumprir esses limites era a AdBlue, que recorre a um sistema com um depósito adicional de ureia, uma coisa aceitável para camiões, mas vista como algo estranho para automóveis de passageiros.

"O quê, dois depósitos?!" (FOTO: Mercedes-Benz)


O que nos leva à questão do porquê...

O grupo Volkswagen apostou fortemente nos motores diesel durante as últimas décadas. Numa altura em que outras marcas como a Toyota e a Tesla investiram para conseguir progressos (e sucessos) em soluções para automóveis elétricos, a VW brandiu a bandeira que o diesel teria um grande futuro, fazendo propaganda com o Audi R15/R18 que corre nas 24H de LeMans com um motor a gasóleo, porque o consumidor acredita sempre que os sucessos na competição têm algo a ver com os veículos que conduz no dia a dia (nunca tem, mas o consumidor é, por norma, parvo).
Essa aposta forte no diesel correu bem na Europa mas o mercado norte-americano continuava a ser apetecível e a ideia de conseguir convencer os consumidores que os motores TDI eram realmente limpos sem recurso a soluções "estranhas" como o AdBlue foi demasiado tentadora.
Esta não terá sido a primeira nem a última vez que uma indústria mente descaradamente, mas quando uma empresa enfrenta multas de 37.000€ por cada um dos 11 milhões de veículos vendidos nestes anos, a situação tem contornos de calamidade. Com as acções do grupo Volkswagen a cair a pique e uma mancha indelével na credibilidade, podemos ter a certeza que será necessário repensar toda a estratégia de uma empresa e mudança para uma aposta em modelos a gasolina ou elétricos é mais do que esperada. Mas tudo isso demora tempo e é certo que alguns cortes terão de ser feitos.


O que significa para Portugal?

Nada de bom. A mentira da VW não deve afetar os motores dos nossos adorados Audis A4 e VW Passat mas quando uma empresa enfrenta multas 3 vezes superiores ao seu valor atual podemos concluir que está falida. Durante os próximos meses serão negociados os termos da multa a aplicar e veremos então o que sobra do grande gigante automóvel alemão e a fábrica da Autoeuropa em Palmela, que produz o VW Scirocco, está claramente na linha de fogo.


(Foto: VW/Autoeuropa)

Num cenário de luta pela sobrevivência da marca, os modelos desportivos não têm razão de ser e reconverter uma fábrica tem custos elevados que a fraca procura dos outros modelos não conseguirá sustentar.

Alguém sabe de cabeça quantas fábricas existem no distrito de Setúbal a depender diretamente da produção da AutoEuropa?

Claro que tudo isto tanto pode ditar o fim da Volkswagen como pode vir a ser resolvido nos bastidores e meia dúzia de manobras de relações públicas. Aguardemos os próximos capítulos.

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